O que é AUTOIMUNE

 

Vou tentar explicar de uma maneira fácil o que é AUTOIMUNE, já que você deve ter visto esta palavra algumas vezes neste site ou até mesmo na televisão na série DR. HOUSE.

Nós possuímos um complexo sistema contra invasões externas. É o chamado sistema imune.

Deus criou um mecanismo de defesa que é capaz de reconhecer praticamente qualquer tipo de invasão ou agressão. A complexidade do sistema está exatamente em conseguir distinguir entre o que é danoso ao organismo, o que faz parte do nosso próprio corpo como células, tecidos e órgãos, e o que não é nosso, mas não causam danos, como alimentos por exemplo.

Existe algo como uma "biblioteca de anticorpos" armazenada no nosso organismo. O corpo é capaz de identificar as substâncias, organismos ou proteínas estranhas que já entraram em contato conosco desde o nascimento. A estes que o corpo humano reconhece damos o nome de antígenos. A partir de agora sempre que eu falar de antígeno estarei me referindo a qualquer partícula capaz de desencadear uma resposta imune.

Durante nossa formação enquanto feto, nosso organismo começa a criar o sistema imune. O primeiro trabalho é reconhecer tudo o que é próprio, para mais tarde poder reconhecer o que é estranho. O útero materno é um ambiente estéril, ou seja, livre de agentes infecciosos. Assim que nascemos somos imediatamente expostos a um "mundo hostil" com uma enormidade de antígenos. Desde o parto, o corpo começa a reconhecer catalogar e atacar tudo que não é original de fábrica.

Esse contato com antígenos nos primeiros anos de vida é importante para a formação desta "biblioteca de anticorpos". O corpo consegue montar uma resposta imune muito mais rápida se já houver dados sobre o invasor. Se o antígeno for completamente novo, é necessário algum tempo até que o organismo descubra quais os anticorpos são mais indicados para combater aquele tipo de partícula.

A Doença auto-imune ocorre quando o sistema de defesa perde a capacidade de reconhecer o que é "original de fábrica", levando a produção de anticorpos contra células, tecidos ou órgãos do próprio corpo.

Exemplo: No diabetes tipo I ocorre uma produção inapropriada de anticorpos contra as células do pâncreas que produzem insulina, levando a sua destruição e ao aparecimento do diabetes.

Existem inúmeras doenças auto-imunes, as mais comuns são:

 

Artrite reumatóide: o alvo de ataque são os tecidos que revestem as articulações. Os principais sintomas são dores nas juntas, inchaço e sensação de rigidez nas articulações pela manhã. Atinge principalmente os dedos das mãos, punhos, joelhos, tornozelos e pés. A dor é simétrica, acomete os membros do lado direito e esquerdo.

 

Espondilite Aquilosante: é uma doença inflamatória crônica, incurável por enquanto, que afeta as articulações do esqueleto axial, especialmente as da coluna, quadris, joelhos e ombros. Nos quadros mais graves, podem ocorrer lesões nos olhos (uveíte), coração (doença cardíaca espondilítica), pulmões (fibrose pulmonar), intestinos (colite ulcerativa) e pele (psoríase).

Esclerose múltipla: o sistema imunológico causa lesões neurológicas graves e progressivas. Ao longo do tempo, a pessoa tem problemas de coordenação motora, redução da capacidade de visão e alterações na percepção sensorial. Entre outros sintomas, estão a sensação de cansaço, fraqueza nas pernas e problemas de memória.

Esclerodermia: os danos acometem as células que produzem o colágeno, substância que torna a pele elástica e que também está presente nas articulações. A doença atinge ainda pulmão, esôfago e rins. Entre os sintomas, estão o endurecimento da pele, aumento da sensibilidade dos dedos ao frio associado a dor e mudança em sua coloração (podem ficar brancos, azuis ou vermelhos).

Dermatite atópica: é uma inflamação cutânea crônica, clinicamente e histologicamente similar à dermatite de contato alérgica. Ela pode iniciar-se qualquer idade mas tem ocorrência em crianças (10 a 15%). São identificados pelo menos dois sub-tipos de dermatite atópica: um intrínseco (não-mediado pela IgE) e um extrínseco (mediado pela IgE). Isto desperta uma discussão sobre o papel dos alergenos como fatores desencadeantes da dermatite atópica, principalmante em crianças, onde o sub-tipo não mediado pela IgE prevalece.

Foi realizado uma revisão bibliográfica com enfoque em estudos in vitro e in vivo realizados recentemente e relacionados com a fisiopatologia da doença.

Os resultados mostram uma síndrome complexa que envolve diferentes estágios, iniciando pela forma intrínseca, evoluindo para a forma extrínseca e culminando com a forma auto-alérgica/auto-imune.

Referências: Allergy Clin Immunol Int: J World Allergy Org

Diabetes mellitus: é conhecida por diabete juvenil ou do tipo 1, pois seu diagnóstico ocorre na infância. É causada pela destruição auto-imune das células do pâncreas que secretam insulina. Sinais de alerta: sede excessiva, desejo freqüente de urinar, ganho de peso e cansaço.

Doença de Graves e tireoidite de Hashimoto: doenças auto-imunes da tireóide que causam sintomas distintos. Na doença de Grave, os anticorpos causam o hipertireoidismo, que deixa o paciente mais ansioso, com palpitações e tremor nas mãos, redução de peso e dificuldade de concentração. Na tireoidite de Hashimoto, a destruição na glândula tireóide causa o hipotireoidismo. Sintomas: cansaço, intolerância ao frio, depressão, ganho de peso, constipação e fraqueza.

Lúpus eritematoso: erupções avermelhadas se desenvolvem na face durante a doença. Pode atingir vários órgãos, incluindo o sistema nervoso central, os rins e o coração. Entre os sintomas, estão dor nas juntas, sensação de cansaço, anemia, rachadura na pele após exposição ao sol e depressão.

Psoríase: provoca alteração na multiplicação das células da pele, que se inflama. Surgem, então, placas avermelhadas principalmente no cotovelo, no joelho, no couro cabeludo e nas costas.

Vitiligo: provoca dano na produção de melanina, pigmento que dá cor à pele. O resultado disso são manchas brancas na superfície da pele, que podem aumentar com o tempo. Em alguns casos, ocorre estabilização.

Síndrome de Sjögren: o sitema imunológico provoca alterações nas glândulas lacrimais e salivares e nas mucosas do nariz, da vagina e do pulmão. Como conseqüência, o organismo parece secar. Sintomas: sensação de secura, redução da saliva, cansaço e inflamação pulmonar.

Doenças crônicas intestinais: as células de defesa se voltam contra o intestino, deixando a pessoa mais suscetível a inflamações. Sintomas: diarréia crônica, dor abdominal, náusea, cansaço, perda de peso, úlceras e dor nas articulações.

Doença celíaca: o dano é no intestino delgado e interfere na absorção de vitaminas. O paciente fica proibido de consumir glúten. Sintomas: dor e inchaço abdominal, diarréia crônica, perda de peso, anemia, gases, perda óssea, cansaço, depressão e dor nas articulações.

Fontes: Emília Sato (reumatologista da Unifesp) e Maria Fernanda Barca (endocrinologista do HC) 
 

 

O tratamento das doenças auto-imunes consiste na inibição do sistema imune através de drogas imunossupressoras como corticóides, ciclofosfamida, azatioprina e outros.

Como ainda não conseguimos realizar uma imunossupressão seletiva aos anticorpos indesejáveis, acabamos por criar um estado de imunossupressão geral que predispõe esses pacientes a infecções por bactérias, vírus e fungos. É a famosa história do cobertor curto.

O diagnóstico das patologias auto-imunes é feita baseada no quadro clínico e na pesquisa dos auto-anticorpos no sangue. O principal exame é a dosagem do FAN (fator antinuclear).